quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

grupo de lavradores de Uraí foi resgatado por auditores fiscais por serem submetidos a regime análogo ao escravo


Mais um vez nossa cidade é destaque na Folha de Londrina por uma notícia que não nos traz nenhum orgulho.
Geraldo, Edson, João e Aparecido integram o grupo que tentou a sorte na região de Campinas: dívidas e decepções

Uraí – Uma boa remuneração por dia de trabalho, alojamento com beliches confortáveis e emprego garantido por três meses. Promessa tentadora. Principalmente para trabalhadores rurais paranaenses que ficam praticamente sem ocupação com o final da colheita de café e uva em outubro. Com essa ilusão, 14 lavradores de Uraí (26 km a oeste de Cornélio Procópio) foi tentar a sorte nas plantações de laranja na região de Campinas (SP), mas o final não foi o que eles esperavam. O grupo acabou resgatado por auditores fiscais porque trabalhava em ‘‘regime análogo ao de escravos.’’ De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Uraí e Rancho Alegre, Adilson Ramalho Matta, perto de 120 lavradores dos dois municípios viajam todos os anos em busca de sustento em lavouras do interior de São Paulo e de Minas Gerais. Juntas, as cidades têm cerca de 12 mil habitantes. A viagem é a alternativa dos paranaenses no período de entressafra, entre outubro e dezembro. Neste período, trabalham na colheita de laranja ou café. Os problemas para o grupo que foi trabalhar na lavoura de laraja em Arthur Nogueira começaram logo na chegada à fazenda. O prometido alojamento não passava de um corredor nos fundos de um bar. Não havia nem mesmo colchões suficientes para todos e os trabalhadores foram obrigados a dormir ‘‘amontoados’’, de acordo com relatos dos próprios lavradores. Acostumado a viajar atrás de serviço nos seus 64 anos de vida, Geraldo Batista da Silva nem imaginava que a temporada no interior paulista se transformaria num pesadelo. Após dias de trabalho, o lavrador fez as contas com o patrão e assustou-se: devia R$ 2 mil. Resultado das depesas pela viagem de ida e dos mantimentos comprados numa venda próxima, que pertenceria ao dono da fazenda. De volta e decepcionado, Geraldo Silva não quer mais buscar trabalho em terras distantes. ‘‘A gente sofre demais. Já estou muito velho para isso’’, diz o lavrador aposentado que, atualmente, vive de bicos para complementar a renda de R$ 415 mensais. Situação financeira que piorou depois de um empréstimo consignado, feito para comprar um barraco do qual ele já se desfez. A ilusão de bons ganhos em pouco tempo atraiu velhos e jovens. Edson Rodrigues da Silva, 24, foi para o interior paulista acompanhado do pai. A expectativa do jovem era receber R$ 450 por quinzena. Mas com as ‘‘dívidas’’ do transporte e da alimentação, ele e os colegas ficaram sem ter como voltar para casa. A salvação veio com a chegada dos auditores fiscais do trabalho da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo (SRTE/SP). O resgate foi feito no dia 18 de novembro. No dia seguinte à fiscalização, o grupo estava de volta a Uraí, só com a roupa do corpo. Nem mesmo a compra de mantimentos foi possível trazer. Mas conseguiram, ao menos, voltar com os cheques de pagamento pelos dias de trabalho e das verbas rescisórias. Mesmo com o risco de ficar tempos sem ocupação, Edson Silva garante que não pretende voltar a aventurar-se. ‘‘Serviço assim só aqui por perto mesmo, onde não tem risco’’, declara.
Fernando Rocha FaroReportagem Local

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